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A mentira do Estado brasileiro

publicado em 4 de maio de 2017 - Por Pedro Marcelo Galasso

A conclamada greve geral do dia 28 de abril ainda não ocorreu, pois a coluna foi escrita nos dias que a antecederam, ou seja, seus efeitos são aguardados, bem como seus desdobramentos.

No entanto, muito pode ser dito, caso a greve tenha sucesso ou fracasse. No dia 26 de abril, que deveria ser renomeado como o mês da mentira, a Câmara de Deputados vota, sem nenhuma consulta popular, as reformas trabalhista e previdenciária. Não sabemos quem os autorizou a votarem um tema tão importante e delicado sem que houvesse um debate popular, com a possibilidade de uma avaliação precisa e honesta do que estas reformas significam, histórica e socialmente, para todos nós.

A simples velocidade das votações, todas em caráter emergencial, expressam de forma clara que não há a intenção de uma discussão sobre uma matéria que envolve a vida de milhões de brasileiros e cuja decisão arbitrária passa pelas mãos de um Congresso Nacional que não tem nenhuma credibilidade para pensar por si só nas reformas.

O Congresso Nacional como casa de barganhas que supostamente representa os desejos populares tem a obrigação de ouvir o que desejam os mais diversos grupos populares e não nos fazer engolir um conjunto de reformas atabalhoadas e que apontam para a piora das relações trabalhistas e das questões previdenciárias, além de se mostrar excludente ao não se fazer valer para setores considerados importantes, como o funcionalismo público federal, as forças policiais e os militares e, principalmente, por não se referir aos privilégios da desonesta, onerosa, incompetente e corrupta classe política brasileira.

É uma afronta a todos nós e aos parâmetros da nossa Constituição a forma com a qual se operam as relações de poder nas nossas casas parlamentares. É como se a classe política se julgasse acima de todos nós e, por isso, se sente no direito de olhar seus interesses e garantir seus privilégios sem que nós, os cidadãos, devêssemos ser considerados e consultados.

Se o Poder Legislativo é o poder que representa o povo, por que este nunca é ouvido?

Ao elegermos um parlamentar, em qualquer esfera do poder público, não lhe damos uma carta em branco com nossa assinatura, não lhe entregamos uma declaração de direitos absolutos para que ele faça o que queira. De fato, entregamos uma carta de intenções que deve respeitar o ideal do Bem Público e a Constituição. O parlamentar deve olhar para a sociedade civil e não para seu partido político ou seu interesse particular. Tampouco, deve pensar em formas de enriquecimento ilícito e não deve compactuar com ações corruptas, pois não é esse o seu papel.

Mais curioso é pensar que não temos nenhum controle sobre as ações do parlamentar eleito, não temos como cobrar uma posição clara sobre suas decisões, não há como lhe cobrar o motivo de seus posicionamentos ou a quebra dos compromissos de campanha e nem mesmo sua mudança de partido ou grupo político. Somos reféns de uma democracia representativa hipócrita e excludente que se alimenta do sangue, da miséria, da violência e da morte diária de milhares de pessoas.

O que esperar do futuro? Parece que muito pouco.

Fonte: Teste

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