Colunistas
A sedução da violência
publicado em 8 de junho de 2017 - Por Pedro Marcelo Galasso
Existe um caráter sedutor na violência que, quando justificada, se apresenta como a única saída plausível para quaisquer questões que sejam consideradas, ou seja, a violência surge como a solução das soluções, como um remédio quase divino para todas as mazelas existentes e por ser irresponsável e exigir somente a concordância cega atrai para sua esfera pessoas dos mais diversos segmentos sociais e dos mais diferentes países.
Os novos atentados terroristas em Londres são expressões claras e incontestes da hipótese acima, por se tratarem de casos extremos, além de serem legitimados e justificados por uma perversão de crenças religiosas que nem de longe pregam tais atrocidades, mas que condenam milhões de muçulmanos a uma série de pré-julgamentos e colocando todos eles como inimigos do Ocidente, devendo, portanto, serem caçados, banidos e exterminados. Os atentados alimentam o ódio de ambos os lados, por sua vez, vemos o recrudescimento dos discursos religiosos por alguns grupos cristãos, algo visto nos EUA onde fuzis com trechos da Bíblia são vendidos.
Como referência histórica e política, vale lembrar que o termo terrorismo vem de um período da Revolução Francesa, de 1789, conhecido como a Convenção, uma república formada ao longo do processo revolucionário, mais especificamente o período do governo jacobino, notoriamente chamado de Terror jacobino e marcado pelo uso eficiente das guilhotinas. Ainda que se guardem inúmeras diferenças entre o Terror jacobino e o terrorismo moderno, a referência é esta.
Para os grupos terroristas, os atentados são expressões de sua força, de sua capacidade de organização e, principalmente, de afirmação de sua fé pervertida e exclusivista, que pretende construir um mundo sem grupos diversos e no qual a sua fé se torne lei absoluta. Além disso, o terror provocado por suas ações atinge a todos indistintamente, incluindo as crianças, pois a ideia é gerar o terror, o pânico e lançar uma ameaça indistinta, sem rosto ou forma, que se torna perigosa para todos, até mesmo quando não passa de uma ameaça.
O terror, portanto, é um fato concreto ou não, se manifestando como morte ou como a constante possibilidade de morte.
Já para aqueles que são suas vítimas, se alimenta o desejo de vingança, por vezes a qualquer preço e a todo custo. Entretanto, como os grupos terroristas são dispersos, sem um “rosto”, e, por isso, qualquer grupo que se enquadre no perfil dos terroristas deve ser perseguido e combatido. E quem se encaixa no perfil? Quaisquer grupos de pessoas que sejam diferentes. O aumento das ações xenofóbicas nos países que recebem imigrantes, na Europa e na América, são expressões desta violência que se retroalimenta.
A violência explícita do terrorismo dos atentados de Londres traz um fato novo, já observado nos atentados de Paris e Nice, na França, mas que foi tratado com hipocrisia e cuidado pelos europeus. Até estes atentados, os terroristas eram descritos como estrangeiros, como pessoas distantes, do Oriente e com todo o sentido negativo que a ideia carrega para nós, os ocidentais. No entanto, os terroristas, nestes casos, eram europeus, ou seja, pessoas nascidas e criadas segundo os valores e normas do Ocidente, não mais pessoas estranhas ou indesejáveis.
A pergunta é – o que fazer? Ao que tudo indica, as respostas ainda não existem fora da esfera da violência.
Pedro Marcelo Galasso – cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
