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A Violência sem Vergonha

publicado em 30 de junho de 2018 - Por Pedro Marcelo Galasso

Os atos violentos têm se espalhado com uma velocidade sem precedentes e tomam conta das mais variadas situações, desde a expulsão e a separação de famílias, de imigrantes, até as cenas vexatórias e criminosas de brasileiros e argentinos, dentre tantos outros, que se utilizam das redes sociais e de seus odiosos grupos, bem como das diferenças culturais e de idioma para expressar o que as pessoas são de pior.

Não há defesa com relação a esse último ato e, muito menos, a chance de nos isentarmos da culpa já que a postura dos brasileiros, nos vídeos gravados na Rússia, expressa a nossa forma mais vil de pensar e de agir. O que veio a público de lá é o que milhões fazem por aqui todos os dias, acreditando se tratar de brincadeiras inofensivas e com alguma graça, quando, de fato, expõe a segregação e os abusos que são perpetrados por aqui.

Uma das explicações para tais atos, que parecem distantes e diferentes, mas que possuem o mesmo cerne, é a lógica do senhor e do escravo, expressão de um fato histórico recorrente no qual a ideia de senhores que se autorizam a dominar os mais fracos, chamados aqui de escravos, é permitida, desejada e até exaltada.

Os códigos de tal lógica variam em cada país e cada situação porque representam modelos culturais que exercem determinado “constrangimento” sobre a ação de indivíduos e grupos; são normas de conduta, cujo poder de persuasão ou de dissuasão repousa, em parte, nas sanções, positivas ou negativas, de aprovação ou desaprovação, que as acompanham e que são socialmente construídas e afirmadas.

Além disso, as motivações podem ser identificadas, tais como a força, a segurança e a aceitação em um determinado grupo. Por exemplo, a ação de Trump, cumprindo uma lei criada a alguns anos, nos EUA, é um ato de força, de uma postura excludente e etnocêntrica que ele afirmou que tomaria ao se tornar presidente e assim o fez. Uma atitude emocional que sustenta o grupo, a raça ou a sociedade a que uma pessoa pertence, superiores a outras entidades raciais, sociais ou culturais. Esta atitude encontra-se associada ao desprezo pelo estrangeiro ou pelo forasteiro, assim como pelos seus costumes. Nessa semana, ele fez o Congresso criar uma lista de países cujos imigrantes serão, virtualmente, impossibilitados de entrarem nos EUA.

O vídeo dos brasileiros, bem como o vídeo do torcedor argentino, são expressões do machismo que toma conta da América Latina e que se caracteriza pela violência e pela humilhação de mulheres, crianças ou de quaisquer outras minorias, de gênero, religião, que formam nosso quadro social. Para alguns, o machismo é a expressão do homem latino-americano humilhado por seus patrões que encontram nas pessoas mais frágeis, dependentes ou menos ouvidas, a válvula de escape, pela violência, para tudo o que ele “passa” em seus dias. Uma postura covarde e aproveitadora que deve ser denunciada e combatida com todas as nossas forças.

Enquanto essas questões, dentre outras tantas, são compartilhadas e discutidas, o governo federal retira mais de 1 bilhão de reais da educação e da cultura para investir na segurança pública, uma atitude populista e inútil que prejudica, ainda mais, uma das principais formas de acabar com a violência e com as desigualdades sociais que assolam nosso quadro político e social.

Pedro Marcelo Galasso – cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com