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O fim da ilusão iluminista

publicado em 23 de agosto de 2018 - Por Pedro Marcelo Galasso

Os tópicos escolhidos para a discussão tratam de uma temática importante e típica do questionamento do ideal iluminista de liberdade.
O Iluminismo tratou sempre de ideais que deveriam aperfeiçoar e melhorar a vida dos homens. A sua luz, a Razão, seria o elemento norteador e referencial para a vida social, política e econômica, nos levando ao futuro, idéia inexorável e linear, a que o homem estava destinado.

A postura iluminista, e sua pretensão de desvendar todo o mundo pautava-se em teorias muito bem formuladas, mas que careciam de fundamentação prática e, até mesmo, histórica. O fracasso do projeto iluminista mostrou os limites para a pretensão deste movimento histórico.

O final do século XIX mostrou de forma clara e direta que a transformação social cobrava um preço mais alto que teorias bem formuladas.

A idéia de liberdade iluminista, expressa nos programas revolucionários da França de 1789, era formal e abstrata demais, servindo como ideário ideológico de classes sociais pragmáticas que ascendiam ao poder em meio aos destroços das experiências e teorias sociais deste período.

Alguns autores, por exemplo, apresentam a situação de conflito a que estamos submetidos deste o momento em que nascemos. Como companheira da nossa “liberdade” teríamos a necessidade.

Esta sim, real e direta cobrando de nós respostas e posições que, algumas vezes, mal compreendemos ou sobre as quais nem temos conhecimento.

O que fica é, simplesmente, o imperativo da necessidade. A máscara iluminista caída revela um mundo que a Razão foi incapaz de iluminar. No final das contas, o que sobrou do projeto iluministas não foram às áreas iluminadas, mas sim as sombras, outrora esquecidas, que surgem com toda a sua força.

Uma das possibilidades para justificar as idéias acima é o determinismo apontado pela autora, somado a questão da excessiva burocratização da vida moderna. É interessante notar que a burocracia é tida e aceita como um fato moderno e necessário à administração eficiente e racional do Estado moderno. No entanto, a autora nos leva a pensar o preço pago para que este processo se efetive, além de nos fazer refletir sobre os rumos, habitualmente maniqueístas, dos atuais processos de burocratização, sem que questionemos, por exemplo, a veracidade ou a humanidade de ações do Estado.

No caso brasileiro, uma das frases que chama a atenção como expressão desta discussão a frase de Paulo Freire, “Não basta querer mudar o mundo. Querer é fundamental, mas não é o suficiente. É preciso também saber querer, aprender a saber querer, o que implica aprender a saber lutar politicamente com táticas adequadas e coerentes com os nossos sonhos estratégicos”, traz a discussão um tema interessante.

Até que ponto a possibilidade de lutar por algum sonho, seja ele pessoal ou coletivo, é possível?

Parece, na verdade, que o mundo não deseja mais ser mudado. Talvez o fracasso do projeto iluminista contribuiu para o enfraquecimento da visão política e colaborou para a criação de uma sociedade civil fragmentada no Brasil. O desejo e a vontade de mudar ficam guardadas no futuro. E o presente? Talvez assuma a feição de um momento de passagem, de transição para um futuro melhor.

É. Parece que esta postura iluminista ainda não foi superada no Brasil.

Pedro Marcelo Galasso – cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com