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Soneto e emenda

publicado em 8 de junho de 2018 - Por Pedro Marcelo Galasso

Como esperado o acordo entre o governo federal e os caminhoneiros não passou de uma manobra irresponsável e mentirosa de um governo que é marcado pelas piores posturas políticas que podem ser adotadas.

E, sejamos francos, conseguir superar os desmandos e as atrocidades políticas praticadas no Brasil é uma façanha que merece destaque. Ser tido como o pior dentre os piores governos é a única atitude da qual o atual governo federal pode se orgulhar, se é que isso é possível.

Ficou claro desde o início das paralisações que o governo federal não sabia o que fazer e nem tinha algo a oferecer, pois o movimento, apesar de sua dispersão e diferentes visões sobre a própria paralisação, mexeu com um componente estrutural fundamental para a economia de qualquer país, o transporte de matérias-primas e de mercadorias. Paralisação justa quando se entende as relações entre as empresas e os caminhoneiros autônomos que, de fato, muitas vezes pagam para trabalhar devido a fragilidade dos contratos que são oferecidos, desprovidas de garantias básicas e carentes de justiça.

Sabemos que as relações de trabalho nessas condições nos obrigam a aceitar o que é proposto já que o elemento da sobrevivência e da necessidade do trabalho e dos salários são impositivas e os trabalhadores, autônomos ou não, se sujeitam mesmo sem garantias mínimas.

No entanto, o que foi reivindicado segue o caminho contrário apontado pelo governo federal desde antes da posse do presidente temer, ou seja, o governo caminhava para a fragilização das leis trabalhistas sob o falso argumento de que isso aumentaria a oferta de empregos; além disso, a postura do governo caminha na direção de práticas econômicas neoliberais que, na prática, abrem caminho para a livre e injusta negociação entre patrões e empregados.

A questão do preço do diesel era a medida mais urgente e a mais fácil de ser explorada pelos caminhoneiros e pela mídia. Entretanto, o pedido de redução do preço do diesel na bomba e a garantia dos preços por períodos de 30 a 60 dias é impossível de ser posta em prática. O preço depende de impostos que, por sua vez, variam nos diferentes Estados que não podem abrir mão daquilo que é arrecadado.

O que isso significa?

Significa que o acordo do governo com os caminhoneiros não pode ser cumprido em muitos Estados que têm a autonomia de decisão sobre tal tema, segundo o que diz a nossa Constituição e segundo o que defende uma república federativa.

Parece que o governo federal só retardou o inevitável e as medidas anunciadas, inexequíveis por si só, podem gerar novos protestos, novas reivindicações, expondo ainda mais os problemas estruturais ligados ao transporte no Brasil e servem para aumentar ainda mais a antipatia contra o governo federal.

O pior é que em um ano eleitoral, as figuras messiânicas e oportunistas têm um prato cheio para suas falaciosas propagandas eleitorais e suas promessas vazias. É, a emenda vai sair mais cara que o soneto.

Pedro Marcelo Galasso – cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com